segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Dignidade aos Catadores

Para catadores, dignidade do trabalho foi conquistada

Fonte:Rede Brasil Atual - Por:Virginia Toledo

Cerca de duas mil pessoas esperaram, por horas, a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira (23), último dia da Expocatadores na capital paulista. A maior parte deles tinha a mesma expectativa. Baianos, mineiros, paranaenses e catadores de outros estados dividiam o espaço com trabalhadores de outras nacionalidade, como peruanos e equatorianos. O evento teve caráter internacional.
Adalvina Ribeiro, de 62 anos, é catadora de materiais recicláveis em Maringá (PR). Há três décadas ela trabalha dessa forma e mostrava com orgullho a foto que estampava a capa de um jornal local, em que ela abraçava o presidente Lula em uma visita à cidade, há cinco anos.
Ela revela que, hoje, sua atividade pode ser vista como uma profissão de verdade. “Eu sou catadora e vou continuar com muito orgulho”, explica. Dona Adalvina sabe que seu cotidiano pode melhorar, e parte dessas mudanças não envolve decisões políticas.
“O catador é importante, só que precisamos que as pessoas se conscientizem. Todo mundo tem de nos ajudar a separar o lixo”, avisa. "Mas eu gosto do lixo bem limpinho"
O mestre de cerimônia do evento, paramentado de modo peculiar, incentivava o coro: “Não, não, não à incineração”. A queima de resíduos é considerada uma das maiores vilãs pelos catadores, que consideram que a solução pode representar vantagens para prefeituras e problemas para eles. Pressionadas pelo poder econômico, as administrações poderiam colocar em risco a profissão relacionada à separação de materiais recicláveis.
Entusiasmado com o protesto contra os incineradores, Ubiratan Santa Bárbara, líder da Cooperativa de Agentes Ecológicos de Canabrava (Caec), de Salvador (BA), analisa que há alternativas. Para ele, a Lei de Resíduos Sólidos assinada por Lula facilitará o trabalho diário da categoria.
A legislação recém modificada responsabiliza empresas pela chamada “logística reversa”, que é o recolhimento de produtos descartáveis pelos fabricantes. A medida favorece a integração de municípios na gestão dos resíduos e responsabiliza mais setores da sociedade pelo lixo gerado.
Ubiratan pede às prefeituras que vejam os catadores com “bons olhos” e passem a apoiar as cooperativas e a coleta seletiva. “Eles têm de ver que não será um favor para nós, catadores, mas sim para a sociedade e para o meio ambiente”, ensina. E avisa: “É com a iniciativa de vocês (prefeitos) que isso chegará aos cidadãos catadores”.
A experiência brasileira despertou o interesse de outros países. A catadora Luana Guanaluiza, uma das líderes da associação de catadores da cidade de Quito, no Equador, conta que veio até o Brasil para saber como o governo brasileiro conseguiu fazer com que o trabalho dos catadores pudesse ser reconhecido.
“No Equador não somos reconhecidos por ninguém, nem pelo governo”, lamenta. “Lula é o primeiro presidente do mundo que oferece pelo menos um dia de sua agenda para os catadores”, reconhece.
De fala humilde, mas convicta, Matilde Ramos, da liderança do Movimento Nacional Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) em nome de todos os catadores fez um balanço do governo Lula, e , por muitas vezes, o deixou acanhado.
Sempre com o olhar direcionado a Lula, nem Matilde nem o presidente escondiam a emoção. Ao agradecer a presença e o compromisso de ter aderido à luta dos catadores, Matilde olhando para o presidente e lhe indagou firmemente:
“Graças a você conseguimos sair de uma vida desumana. O senhor tem dimensão do que fez pela gente?. Ele reage com com um abraço.

Matéria publicada originalmente na Rede Brasil atual

domingo, 26 de dezembro de 2010

Feliz 2011 para tod@s !


Receita para um novo dia

Por:Sérgio Vaz

Pegue um litro de otimismo,duas lágrimas
De preferência escorridas no passado.

Duas colheres de muita luta
E sonhos à vontade.

Duzentos gramas de presente
E meio quilo de futuro.

Pegue a solidão, descasque-a toda
E jogue fora a semente.

Coloque tudo dentro do peito
E acenda no fogo brando das manhãs de sol.

Mexa com muito entusiasmo.
Ao ferver, não esqueça de colocar

Uma dose de esperança
E várias gotas de liberdade.

Sorrisos largos e abraços apertados,
Para dar um gosto especial..

Quando pronto,assim que os olhos começarem a brilhar,
Sirva-o de braços abertos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Convenção 158,uma luta de tod@s trabalhadores(as)


Convenção 158 e democracia

Os efeitos positivos desta convenção da OIT para a qualidade do emprego e das relações de trabalho ainda podem ser recuperados. Desde que a pressão da sociedade sobre o Congresso seja mais forte que a da velha guarda patronal

Por: Giorgio Romano Schutte
Fonte:carta capital

A Constituição de 1988 define que a relação de emprego é “protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa... nos termos da lei complementar”. Ou seja, sem a referida lei essa proteção torna-se uma letra morta. Décadas atrás o neoliberalismo argumentava que a maior “flexibilidade” das regras é que proporcionaria mais trabalho e renda. No entanto, os mesmos que com suas políticas fizeram o desemprego disparar nos anos 1990 agora tentam convencer a sociedade de que um modesto e pequeno passo para superar a demissão imotivada, com a ratificação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seria um “atraso”.
A Convenção 158 não proíbe a demissão, apenas reduz o poder autoritário do empregador na relação trabalhista e estimula uma cultura de negociação no local de trabalho. Uma vez em vigor, as demissões precisarão ter justificativas, que podem ser problemas econômicos, tecnológicos, estruturais ou semelhantes, mas, nesses casos, o processo precisa ser informado e discutido com os representantes dos trabalhadores.
O Brasil é um dos países com o mercado de trabalho mais flexível no mundo, basta olhar a alta rotatividade: demissão e admissão é a regra do jogo. Quando recebemos a boa notícia de que foi criado 1 milhão de empregos, entenda-se que 10 milhões de trabalhadores foram contratados e 9 milhões, dispensados. E não é necessário amplo conhecimento das relações sindicais para entender o quanto isso enfraquece o poder de negociação dos empregados. Essa distorção gera a “justiça da despedida”, em vez de Justiça do Trabalho, pois quando não há canais democráticos para reivindicar os direitos no dia-a-dia, como horas extras não pagas ou ambientes inadequados, o trabalhador espera o seu desligamento para recorrer à Justiça.
O Congresso Nacional havia aprovado a Convenção 158 da OIT em setembro de 1992. Mas, por se tratar de um assunto que provocou pouco interesse na época, demorou até abril de 1996 para que entrasse em vigor. Foi quando FHC promulgou sua ratificação. Traduzindo: a maior autoridade do Poder Executivo, por meio do Decreto nº 1.855, assinou embaixo da convenção para que ela passasse a ter validade no Brasil.
Quando os sindicatos começaram a basear argumentos e pleitos nos termos da Convenção, a reação empresarial foi enérgica. Por isso, em um ato inacreditável, sete meses depois, FHC denunciou (revogou a ratificação) do mesmo instrumento, para evitar que os recursos judiciais da classe patronal chegassem ao Supremo Tribunal Federal e este desse razão ao trabalhador. Vejam o argumento usado na época: a Constituição estabelece que o artigo 7º deve ser regulamentado por lei complementar. Não sendo a convenção uma lei complementar, esta seria inconstitucional, mesmo na inexistência da tal lei complementar que contemplasse o que a Carta Magna manda fazer.
Há mais de dez anos se aguarda uma decisão do STF a respeito da legalidade de um presidente cancelar um tratado internacional – no caso a Convenção 158 da OIT – sem autorização do Congresso.
Em seu primeiro mandato, o presidente Lula tentou fazer uma grande reforma, mas acabou avançando pouco na área. Assim, tomou-se no seu segundo mandato a sábia iniciativa de reapresentar a Convenção 158 da OIT ao Congresso Nacional, em fevereiro último, para que seja aprovada pela segunda vez, após 16 anos, sem que os deputados jamais a tenham denunciado. Mas a re-ratificação da Convenção 158 foi rejeitada pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara no mês de julho.
O resultado da votação foi comemorado pelo lobby das entidades patronais, que operou dia e noite. Contudo, o tema não se esgota aqui, pois o assunto entra agora na pauta do Plenário. A velha guarda patronal se mobiliza, usando argumentos modernos, para manter um dos símbolos do atraso do capitalismo brasileiro: a demissão imotivada

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Bibliotecas para a Peãozada!

ABC Paulista ganha 25 novas minibibliotecas para estimular leitura de metalúrgicos
Por:Marli Moreira
Da Agência Brasil em São Paulo
Trabalhadores de montadoras e de outras fábricas do setor metalúrgico de seis municípios da região do ABC Paulista vão ter mais acesso aos livros por meio da instalação de 25 novos pontos de Leitura nas fábricas, que fazem parte do Programa Mais Cultura do Ministério da Cultura (MinC). Com essa iniciativa, lançada na manhã de hoje (15), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, o número de novas minibibliotecas nessa região será ampliado para 35.Atualmente, já existem dez unidades em Diadema, onde serão instalados mais quatro. As demais serão distribuídas da seguinte forma: quatro em Mauá; duas em Ribeirão Pires; uma em Rio Grande da Serra; quatro em Santo André e dez em São Bernardo do Campo.A expectativa é multiplicar o número de leitores, facilitando também o acesso aos familiares dos trabalhadores, esclareceu o diretor de Livro, Leitura e Literatura do MinC, Fabiano dos Santos Piúba. Ele disse que os exemplares poderão ser levados para casa por meio de empréstimos. Entre as opções estão desde os clássicos da literatura nacional e estrangeira às edições contemporâneas.Além dos cerca de 650 livros, em cada Ponto de Leitura, haverá computadores, impressora e pufes. O investimento foi de cerca de R$ 700 mil. Segundo Piúba, já foram instalados cerca de 600 unidades em todo o país e 720 estão em fase de implantação.“O livro é um bem pouco presente no imaginário de consumo do brasileiro, ficando atrás das TVs, geladeira e carros, principalmente, nas classes C, D e E”, observou ele, com base na pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, uma Organização Social Civil de Interesse Público (Oscip).Levantamento feito em 2007 por essa organização indicou que quase metade dos consultados (48%) não tinha lido nenhum livro nos três meses anteriores à pesquisa. Entre os que se declararam não leitores, a maioria (15%) tinha idade entre 30 e 39 anos.Para destacar a importância da leitura, Piúba lembrou a metáfora, feita pelo ex-ministro Gilberto Gil na época do lançamento do Programa Mais Cultura: “Esse tipo de cultura é uma espécie de do-in antropológico que leva à inclusão social, à cidadania e à transformação”.Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, essa é mais uma chance de propiciar o crescimento pessoal dos trabalhadores, dos filhos deles e de familiares. “Eles serão estimulados a pegar um livro e isso vai ajudar para que o Brasil deixe de ser um país onde as pessoas leem, em média, menos de dois livros por ano.” O líder sindical informou que só na fábrica da Mercedes Benz serão instalados cinco pontos de leitura.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Arroz,feijão,batata e macarrão.....


Brasileiro bebe mais refrigerante e come menos arroz e feijão

Da Agência Brasil /Sítio do MST

O brasileiro está comprando menos arroz e feijão. A aquisição média anual per capita dos produtos, tradicionais na alimentação nacional, teve queda entre os anos de 2003 e 2009. O indicador, lançado nesta quinta (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mede a quantidade de um produto adquirido em um ano por uma família, dividido pelo número de pessoas que a compõem.
O arroz caiu 40,5%, tendo passado da média de 24,5 para 14,6 quilos por pessoa ao longo de um ano. Já o feijão, teve redução de 26,4%, passando de 12,4 para 9,1 quilos. A aquisição de açúcar refinado também diminuiu 48,3% (de 6,1 para 3,2 quilos) no período.
Por outro lado, houve aumento na compra de refrigerante de cola (39,3%, de 9,1 para 12,7 quilos), água mineral (27,5%, de 10,9 para 13,9 quilos) e cerveja (23,2%, de 4,6 para 5,6 quilos).
Os dados fazem parte do suplemento Aquisição Domiciliar per Capita, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. O levantamento avalia as quantidades de alimentos adquiridas pelas famílias brasileiras para consumo domiciliar e as formas dessa aquisição.
O levantamento revela que o arroz e o feijão também perderam participação relativa entre os itens tradicionais na composição do total médio diário de calorias consumido pelo brasileiro. No caso do arroz, a contribuição passou de 17,4% para 16,2%; já o feijão reduziu sua participação no prato do brasileiro de 6,6% para 5,4%.
O mesmo movimento foi observado na farinha de mandioca (de 4,9% para 3,9%). Por outro lado, aumentou a proporção de comidas industrializadas, como pães (de 5,7% para 6,4%), embutidos (de 1,78% para 2,2%), biscoitos (de 3,1% para 3,4%), refrigerantes (de 1,5% para 1,8%) e refeições prontas (de 3,3% para 4,6%).
De acordo com a nutricionista clínica Vânia Barberan, membro da Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro, o problema do consumo excessivo de produtos industrializados está diretamente relacionado à maior ingestão de açúcares e gorduras.
“Há todo um mito de que o arroz engorda, então muita gente deixa o prato de lado e acaba substituindo por outros alimentos que engordam muito mais. Com isso, a associação arroz e feijão é desfeita e o brasileiro acaba comendo menos feijão também, já que não tem o hábito de ingerir o alimento puro ou com pão, por exemplo”, explicou.
Saudáveis
Segundo Vânia Barberan, a dupla é ideal para uma grande refeição, acrescida de uma fonte de proteína, verduras e legumes.
“A dupla [arroz e feijão] é parte do prato ideal, porque é rico em ferro, em proteína e tem aporte calórico bom para uma grande refeição”, acrescentou.
Ainda de acordo com o levantamento, em 2009 tiveram destaque na aquisição domiciliar per capita em todo o país as bebidas e infusões, (50,7 quilos); laticínios (43,7 quilos); cereais e leguminosas (39,0 quilos); frutas (28,9 quilos); hortaliças (27,1 quilos) e carnes (25,4 quilos).
Na área urbana, a aquisição foi maior (55,2 quilos) do que a média nacional para bebidas e infusões. Na área rural, foi bem menor (28,9 quilos). O mesmo ocorreu com as frutas, que registraram média de 30,3 quilos na área urbana e de 21,9 quilos na rural. Já em relação aos cereais de leguminosas (34,1 quilos na área urbano e 62,5 quilos na rural) e às carnes (24,6 quilos na urbana e 29,6 quilos na rural), a situação se inverteu.
Entre as regiões, a Sul se destacou na média de aquisição de carnes (35,7 quilos), laticínios (67,4 quilos), bebidas e infusões (64,1 quilos), hortaliças (38,6 quilos), frutas (36,5 quilos) e alimentos preparados e misturas industriais (4,8 quilos). Já a Centro-Oeste e a Nordeste tiveram as maiores médias para cereais e leguminosas (50,2 quilos e 43,6 quilos, respectivamente).
A forma de aquisição de alimentos mais usada em todo o país foi a monetária, mesmo na área rural onde a aquisição não monetária só foi maior nos grupos de laticínios (26,1 quilos contra 17,3 quilos, uma diferença de 51%) e pescados (3,9 quilos contra 3,7 quilos, diferença de 5,4%).
Ainda de acordo com a pesquisa, os alimentos adquiridos para consumo no domicílio constituíam, no período da pesquisa, 68,9% da despesa média mensal familiar com alimentação, contra 75,9% registrados no levantamento relativo aos anos de 2002-2003, indicando uma mudança nos gastos com alimentação em domicílio.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O monstro da precarização no trabalho

Contra a precarização do trabalho

A crescente onda de terceirizações no Brasil acabou se transformando em um tsunami para o trabalhador que viu seu salário despencar, teve benefícios reduzidos ou cortados e sentiu na pele as condições de trabalho piorarem dia a dia.

Os primeiros casos de terceirização começaram já na década de 1980, mas foi da década de 1990 para cá que a terceirização tomou corpo e se transformou numa estratégia utilizada largamente pelas empresas, como sinônimo de redução de custos, impactando principalmente o emprego e a renda de milhões de trabalhadores.

A transferência de atividades e do vínculo empregatício de uma empresa produtora de bens ou serviços para prestadoras de serviços significa para o trabalhador redução de salário e benefícios, trabalho precarizado, piora nas condições gerais de trabalho e desmobilização, o que conseqüentemente aumenta o risco de acidentes no trabalho e de problemas de saúde de forma geral.

Podemos perceber o impacto da terceirização na renda pelo depoimento de um trabalhador que divulga e promove em supermercados os produtos de uma multinacional de higiene e limpeza.

"Há 13 anos, quando comecei como promotor recebia o equivalente a R$ 1.200,00 e hoje meu salário é de R$ 500,00 (220 dólares aproximadamente). O tíquete alimentação também caiu pela metade".

O trabalhador, que prefere não se identificar, ganhava quase três vezes mais quando era funcionário contratado diretamente pela empresa que até hoje representa. Mas, atualmente, como promotor terceirizado, ele percebe claramente que as condições gerais de trabalho estão deterioradas - desde o salário até o convívio no trabalho. Histórias como a deste promotor estão levando milhões de trabalhadores a enfrentar de problemas econômicos a problemas de saúde.

No ramo de comércio e serviços são cada vez mais freqüentes os processos de terceirização em supermercados, nos serviços de asseio e conservação e em hotelaria, entre outros, o que significa para os trabalhadores graves problemas como: flexibilização de direitos, demissões sem garantia de direitos, tratamento diferenciado entre trabalhadores efetivos e terceirizados.

Nos supermercados a situação é cada vez mais crítica para os trabalhadores. Repositores, promotores, pessoal de limpeza, embaladores e cobrança já eram terceirizados, agora até os caixas estão em processo de terceirização em algumas cidades. No setor de asseio e conservação, o fenômeno ultracapitalista e neoliberal da terceirização é avassalador, resultando num grande contingente de trabalhadores com baixos salários, direitos flexibilizados e em constante ameaça.

A redução de salários é um forte aspecto da terceirização, que cria profundos problemas não apenas para trabalhadores, mas também para as empresas. Os trabalhadores têm a vida precarizada, mas as empresas também perdem com a desmotivação do trabalhador que direta ou indiretamente lida com sua marca.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fator previdenciário não !!!!!!

Fator Previdenciário,uma verdadeira arapuca para o trabalhador

Justiça considera fator previdenciário inconstitucionalPedro da Rocha
O fator previdenciário foi considerado inconstitucional pelo juiz federal Marcus Orione Gonçalves Correia, da 1ª Vara Federal Previdenciária em São Paulo. A decisão ocorreu em ação movida por um segurado contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Na decisão, Correia afirma que o fator previdenciário, além de ser complexo e de difícil compreensão para o segurado, é inconstitucional por introduzir elementos de cálculo que influem no próprio direito ao benefício. O juiz entende que o requisito para a obtenção do benefício - que continuaria a ser apenas o tempo de contribuição - é diferente do cálculo do seu valor inicial, em que não se poderia levar em conta fatores como a expectativa de vida.
"Somente é possível se obter o benefício a partir da utilização dos elementos indispensáveis para o cálculo da renda mensal inicial. Assim, utilizando-se para a obtenção desta de elementos não permitidos pela Constituição, obviamente que o próprio direito ao benefício em si se encontra violado", argumentou.
A decisão determinou que o INSS promova o recálculo da renda mensal inicial do benefício do segurado sem levar em conta o fator. O fator previdenciário é um cálculo que leva em conta a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar.

Fonte: Agência Estado. Todos os direitos reservados.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Banheiro nã,nã,ni,nã,não!!!!


DANO MORAL
Empresa de telemarketing que limitou tempo para uso do banheiro terá de pagar indenização

Da Redação - 30/11/2010-Última instância

A 6ª Turma do TST (Tribunal Superior do Trabalho) manteve indenização fixada pelo TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região) no valor de R$ 5.000 por danos morais a uma operadora de telemarketing da Atento Brasil S.A., que sofria limitação ao tempo de uso do banheiro durante a jornada de trabalho. A operadora buscava obter reparação por danos morais, sob a alegação de que dispunha de apenas cinco minutos para utilização do banheiro durante as sete horas de trabalho. A autorização para o uso do sanitário poderia demorar até uma hora, evidenciando as condições prejudiciais de trabalho a que eram submetidos os empregados. A empregada alegou que era exposta a situação vexatória ao ter que explicar o motivo sempre que ultrapassava o limite fixado, expondo dessa forma a sua intimidade a terceiros contra a sua vontade. A Vara do Trabalho, ao analisar o caso, condenou a empresa ao pagamento de dano moral no valor de R$ 10 mil e a empresa, insatisfeita, recorreu. O TRT-RJ destacou no acórdão que as provas testemunhais confirmaram as punições dos que ultrapassavam o tempo-limite de uso do banheiro. Em relação ao valor da indenização, o Regional decidiu por reduzi-lo para R$ 5.000, levando em consideração o tempo de duração do contrato e o salário recebido pela operadora. A empresa recorreu ao TST, argumentando não ter havido comprovação dos fatos alegados e nem de que o acontecimento tivesse ocorrido por dolo ou culpa sua. Sustentou que sempre cumpriu com todas as suas obrigações no que diz respeito às questões de medicina e segurança do trabalho. Ao julgar o recurso, o Ministro Mauricio Godinho Delgado, relator, observou que a atitude da empresa desrespeitou o princípio da dignidade humana. O ministro salientou que a higidez física, mental e emocional do ser humano são bens fundamentais de sua vida privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. “A empresa, ao adotar um sistema de fiscalização ao uso do banheiro, ultrapassou os limites de atuação do seu poder diretivo atingindo a liberdade do empregado de satisfazer suas necessidades fisiológicas, afrontando normas de proteção à saúde e impondo-lhe uma situação degradante e vexatória”, observou o relator. O recurso teve seu seguimento negado por unanimidade.


Fonte:Última Instância ao Blog Conversa de peão

domingo, 7 de novembro de 2010

Desilusão no trabalho tem nome:"Burn out"



Transtorno psíquico "burn out" ataca desiludidos com o próprio trabalho

FONTE:GUILHERME GENESTRETIDE
BLOG:CONVERSA DE PEÃO

Perfeccionismo é fator de risco para esta doença insidiosa, que ataca a motivação de gente que rala, sem distinção de cargos hierárquicos.
O "burn out", termo que em inglês designa a combustão completa, está incluído no rol dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. Foi a terceira maior causa de afastamento de profissionais em 2009, segundo dados da Previdência Social.
A síndrome é bem mais que "mero" estado de estresse, não pode ser confundida.
Esse transtorno psíquico mescla esgotamento e desilusão. Pode ser desencadeado por uma exposição contínua a situações estressantes no trabalho, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma (International Stress Management Association), entidade que pesquisa o "burn out".
"A doença é gerada pela percepção de que o esforço colocado no trabalho é superior à recompensa. A pessoa se sente injustiçada e vai se alienando, apresentando sintomas como depressão, fobias e dores musculares."
É a doença dos idealistas, diz Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas.
"O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."
O estresse, compara Lipp, tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o "burn out" é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir.
"Tem a ver com o valor depositado no trabalho", diz Lipp. "Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições pode estar sofrendo do transtorno."
O diagnóstico não é fácil: a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico.
Médicos, professores e policiais são grupos de risco, diz Duílio de Camargo, psiquiatra do trabalho ligado ao Hospital das Clínicas.

DESMAIOS
O professor Cláudio Rodrigues, 43, entrou em combustão total por duas vezes. Começou como um estresse, que foi se acumulando ao longo de dez anos.
Ele lecionava 13 horas por dia numa escola da zona sul de São Paulo. E se frustrava com salas lotadas e alunos desinteressados, conta.
"Via um aluno meu entregando pizza junto com alguém que nunca tinha estudado. Eu me sentia impotente como professor". Deprimido, se manteve afastado das salas por dois anos. Em 2004, depois de receber acompanhamento psiquiátrico e tomar medicação, voltou. Em maio deste ano, recaiu.
"Nada tinha mudado na escola, estrutura péssima. Eu me sentia responsável por estar levando todos os alunos a um caminho sem futuro."
No meio de uma aula, o professor começou a suar e sentir o corpo ficar mole. Saiu e desmaiou na escada. Na semana seguinte, enquanto caminhava para o trabalho, desmaiou de novo. Está afastado desde então.
"Sinto uma insatisfação por ver que o meu trabalho não vale a pena", desabafa.
A vigia Lucimeire Stanco, 34, também passou um tempo licenciada por causa de "burn out". Em 2006, ela fazia a ronda noturna em um colégio da zona leste. Passava a noite só e por duas vezes teve que se esconder quando tentaram invadir o lugar.
"Sentia desânimo porque não me tiravam daquela situação. Me sentia rejeitada, vítima." Ela se tratou e se readaptou. Hoje, só trabalha de dia, e acompanhada de outros vigias.
Casos como esses são tratados com psicoterapia e antidepressivos mas, segundo Marilda Lipp, a medicação só combate os sintomas.
"A pessoa precisa reavaliar o papel do trabalho em sua vida, aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."

FACA NA GARGANTA
"Eu era infeliz e não sabia", afirma a empresária Amália Sina, 45. Hoje ela é a dona do negócio, mas há quatro anos, era a vice-presidente, na América Latina, de uma multinacional e responsável pelas atividades da empresa em 22 países.
"Dava aquela impressão de que o mundo girava em torno do trabalho, sempre com a faca na garganta", diz.
Para a empresária, o apoio que teve da família e a prática de exercícios a ajudaram a suportar as pressões. Até ela deixar a função executiva.
A empresária adotou a estratégia correta para prevenir um "burn out", segundo o psiquiatra Duílio de Camargo. "A pessoa chega a esse estado sem saber o que tem. Se não tiver acolhimento da família, o desconforto aumenta."
Na visão de Eugenio Mussak, fisiologista e professor de gestão de pessoas, as providências para prevenir essa patologia do trabalho devem partir tanto do sujeito quanto da empresa.
Segundo Mussak, todo mundo que trabalha bastante deve se permitir algumas atividades diárias cuja única finalidade seja o prazer, para compensar o clima estressante. E se o ambiente de trabalho puder criar um "estado de férias", melhor ainda.
"Chefes compreensivos, que valorizam o esforço e respeitam os limites de seus subordinados criam um ambiente menos favorável ao "burn out'", diz o professor.
Ele continua: "É preciso respeitar o limite entre o que é profissional e o que é pessoal, e a empresa deve estimular o trabalhador a respeitar esses limites também."

sábado, 9 de outubro de 2010

Uma doença chamada crack


O trabalho permanente e às vezes frustrante de uma ONG que tenta reduzir os riscos à saúde dos viciados da Cracolândia

Quando Valter não consegue mais resistir, ele se tranca em algum dos hotéis da região da Luz (no centro da capital paulista), daqueles de 5 reais o pernoite. Cachimbo na mão fuma várias pedras de crack na sequência. “Quando tenho alguma recaída, me tranco e fico fumando a noite toda. Não tem essa de uma pedrinha só”, afirma. Bebe cachaça junto. Explica que a droga dá vontade de beber.
Dinheiro para usar o crack não é problema. Um primo é traficante e, em troca de uma comissão, ajuda a movimentar o negócio. “Pego 60 pedras, por exemplo. Vendo 40 e entrego o dinheiro para ele. As outras são minhas.” Antes, levava sempre alguma mulher. Agora prefere usar a droga sozinho. “Não quero arrastar ninguém para esse caminho.”
A noitada do crack repete-se a cada três ou quatro meses. Valter está em tratamento em um Centro de Atenção Piscossocial) de Álcool e Drogas (Caps). Frequenta a clínica aberta há três anos. Tem apoio de psiquiatras e toma antidepressivos, remédios para dormir e para reduzir as sensações de abstinência química. Vai bastante ao centro de convivência da ONG “É de Lei”, especializada em política de redução de danos para usuários de drogas. Lá recebe apoio de psicólogos e assistentes sociais, convive com outros viciados, vê filmes, participa de debates e oficinas e vai ao ponto de cultura.
Para Thiago Calil, um dos psicólogos da entidade, os usuários passam a ter mudanças em seu comporta mento social após o convívio fora das áreas de consumo de crack. “Existem lugares na cidade que eles achavam que não podiam ir. A pessoa acaba, em muitos casos, aceitando os preconceitos dos quais é alvo e passa a se impor restrições, por acreditar que tem menos direito que os demais.”
Depois de passar pela cadeia, condenado por roubo, e morar na rua, Valter vê aos 39 anos uma nova perspectiva para a sua vida. Voltou a estudar, fez um curso de confeiteiro e mora em um albergue. “A gente é discriminado por morar em albergue. Não consegui um emprego fixo, mas acabo fazendo uns bicos como confeiteiro.”
A ansiedade e a frustração com os problemas do dia a dia alimentam as recaídas. “Hoje, quando uso, fico mal. Sinto que decepciono quem acredita em mim.” Ele conta que não sente mais qualquer euforia com o uso. “Fico trancado no hotel, em pânico, achando que a polícia vai me pegar. Depois, me sinto culpado de ter usado.”
O Ministério da Saúde tem estimulado a política de redução de danos a usuários de drogas e o tratamento de dependentes químicos em meio aberto, estratégias que recebem críticas dos defensores de isolamento e abstinência total. No Congresso, tramitam projetos de lei que pretendem facilitar a internação compulsória de usuários de drogas. Uma comissão externa da Câmara dos Deputados analisou os efeitos das legislações sobre drogas de Portugal, Holanda e Itália e deve percorrer seis capitais brasileiras para entender melhor os impactos da política brasileira para o tema. Segundo estimativas do governo, há 600 mil dependentes de crack no País, a substância que mais preocupa os especialistas.
A abordagem dos redutores de danos ao usuário de drogas começa com as questões de saúde. Além de panfletos sobre cuidados em relação ao sexo e ao uso de drogas, Calil e Igor Zinza, o outro psicólogo da ONG, visitam as regiões da baixada do Glicério e da Luz com kits de piteiras de silicone e protetores labiais. A piteira evita que o cachimbo queime os lábios dos usuários e o protetor labial ajuda na cicatrização. Assim, eles pretendem reduzir os casos de doenças como hepatite, herpes e tuberculose, transmitidas no compartilhamento de cachimbos. Distribuem ainda camisinhas e falam dos cuidados para se prevenir da Aids. Em algumas cidades da Europa e do Canadá, a política de redução de danos inclui salas de consumo monitorado de drogas, em que o usuário aplica a substância preferida em uma sala individual e é acompanhado por profissionais de saúde, que lhe oferecem os materiais adequados e evitam casos de overdose.
Entre as iniciativas brasileiras, tentou-se a distribuição de cachimbos de madeira aos usuários de crack. Mas a ideia deu errado por causa da falta de conhecimento sobre o perfil de consumo da substância. “Eles fumam também a ‘raspa’ ou a ‘borra’, que fica no fundo do cachimbo e é mais forte e a ‘tochada’, que fica nas paredes do tubo. Não dá para fazer isso com um cachimbo de madeira”, explica Calil. Os redutores de danos discutem com os usuários a proposta de um novo cachimbo, mais seguro do que os atuais, normalmente feitos pelos próprios consumidores. “O alumínio queimado é muito tóxico para o pulmão. O ideal seria usar cobre, mas é muito caro”, afirma.
Alemão está com 44 anos e conta que usa a substância desde os anos 80, inclusive quando esteve preso. “Antes da criação do PCC (organização criminosa que atua dentro dos presídios e passou a ter influência além dos muros), havia crack nos presídios, depois foi proibido. Só tem as outras drogas.” Seu cachimbo de cobre, com um tubo com mais de 20 centímetros, se destaca entre os demais. “É comprido para evitar que a fumaça prejudique meus olhos”, explica. Ele conta que alguns comerciantes da região vendem esses cachimbos. O dele custou 17 reais.
Quando Calil e Zinza percorrem a Cracolândia, os viciados formam filas para pegar piteiras e protetores labiais. Antes de entregar os kits, os agentes conversam com os usuários. “Os dois são nossos amigos”, conta Baiana, de 23 anos, três anos na região. Ela fala dos filhos, que moram com a família na Vila Brasilândia e cujos nomes estão tatuados em seu braço direito.
Baiana reclama da violência dos guardas civis metropolitanos. Um homem mostra hematomas e escoriações: segundo ela, resultados da violência de guardas na noite anterior. De acordo com Calil, a ONG, que recebe financiamento público, tentou e não conseguiu um diálogo com os batalhões da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, atuantes na região. Na visão do redutor de danos, a aproximação com outros setores ligados ao governo ajudaria a integrar as políticas para essa população. A parceria funciona com as equipes do Programa de Saúde da Família. Esse contato tem servido para melhorar o tratamento que os usuários recebem quando precisam de atendimento médico. Os psicólogos da ONG também dão palestras a funcionários de abrigos e albergues sobre as peculiaridades dos usuários de drogas.
Para Baiana, que apesar do apelido é paulistana, a expulsão dos usuários de crack da região da Luz deve ser um desastre. “Aqui, a situação está localizada e não são todos que chegam aqui. Se espalhar, mais pessoas terão mais acesso.” Ela diz que os usuários de crack são muito unidos entre eles. “Um ajuda o outro. Se a família vem buscar alguém, a gente dá apoio para levar. Se depois essa pessoa tentar voltar, a gente expulsa daqui da região. Não queremos o mal dos outros.” Segundo a usuária, os companheiros estão em estado grave quando deixam de se alimentar e tomar banho e vivem apenas em função da droga. “Com 5 reais, você toma banho e dorme. Tem também o pessoal da Cristolândia (ação de igrejas evangélicas na região), que sempre dá uma força.”
Um jovem anda pelas imediações da antiga rodoviária com a ex-namorada a tiracolo. Enquanto caminham de um lado para o outro, discutem como a dependência química do rapaz abalou o relacionamento entre eles, em uma autêntica via crucis do crack. Horas depois, ele seguiria para mais uma internação – as anteriores não surtiram o efeito desejado. Ela está lá para confirmar que ele pegará mesmo a perua até a clínica. “Até parece que eu vou fugir, quem foi atrás de reabilitação fui eu”, repete o jovem. A ex-namorada não se convence e o segue para onde ele vai.
Pedro (nome fictício) continua a circular na Cracolândia, mas orgulha-se de ter tirado quatro pessoas de lá, entre elas uma criança. “Ele não tinha nem 10 anos. Levei na marra para uma perua do atendimento social porque queria ajudá-lo. Dizem que o menino está em uma clínica, em tratamento. Não quero nem que ele me veja, para não se lembrar do crack.” O homem, de barba grisalha, conta que gostaria de entrar com uma representação contra o governo por causa do descaso com crianças e adolescentes que estão nas ruas, usando crack. “Isso aqui é um problema social e de saúde pública, não de segurança. A solução vai sair daqui mesmo, da rua. É como o governo dos Estados Unidos, que passou a recrutar hackers para combater outros hackers”, sugere.
A experiência indica até o melhor momento para abordar os usuários de crack. À noite, muitos estão sob um efeito forte da substância e mal conseguem conversar. Por isso, os redutores de danos preferem ir à tarde. Quando estão reunidos em grandes grupos, o diálogo é difícil, pois é o momento em que ocorre uma verdadeira feira de escambo, com qualquer produto que puder ser trocado. A presença de traficantes e policiais sempre atrapalha.
Valter conta que o momento em que decidiu procurar ajuda foi quando não tinha onde tomar banho e passava fome na rua. “Sabe o que é dormir de pé, debaixo de uma marquise, em um dia de chuva?” Ele olha para o passado e agora pensa no futuro. “As coisas estão dando tão certo que tenho até medo, não estou acostumado com isso.”

Autor:Leonardo Fuhrmann/Carta Capital

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que é assédio moral?

Assédio moral ou violência moral no trabalho não é um fenômeno novo. Pode-se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho.
A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo-causal com a organização do trabalho e tratá-lo como não inerente ao trabalho. A reflexão e o debate sobre o tema são recentes no Brasil, tendo ganhado força após a divulgação da pesquisa brasileira realizada por Dra. Margarida Barreto. Tema da sua dissertação de Mestrado em Psicologia Social, foi defendida em 22 de maio de 2000 na PUC/ SP, sob o título "Uma jornada de humilhações".
A primeira matéria sobre a pesquisa brasileira saiu na Folha de São Paulo, no dia 25 de novembro de 2000, na coluna de Mônica Bérgamo. Desde então o tema tem tido presença constante nos jornais, revistas, rádio e televisão, em todo país. O assunto vem sendo discutido amplamente pela sociedade, em particular no movimento sindical e no âmbito do legislativo.
Em agosto do mesmo ano, foi publicado no Brasil o livro de Marie France Hirigoyen "Harcèlement Moral: la violence perverse au quotidien". O livro foi traduzido pela Editora Bertrand Brasil, com o título Assédio moral: a violência perversa no cotidiano.
Atualmente existem mais de 80 projetos de lei em diferentes municípios do país. Vários projetos já foram aprovados e, entre eles, destacamos: São Paulo, Natal, Guarulhos, Iracemápolis, Bauru, Jaboticabal, Cascavel, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu, Guararema, Campinas, entre outros. No âmbito estadual, o Rio de Janeiro, que, desde maio de 2002, condena esta prática. Existem projetos em tramitação nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Bahia, entre outros. No âmbito federal, há propostas de alteração do Código Penal e outros projetos de lei.

O que é humilhação?
Conceito: É um sentimento de ser ofendido/a, menosprezado/a, rebaixado/a, inferiorizado/a, submetido/a, vexado/a, constrangido/a e ultrajado/a pelo outro/a. É sentir-se um ninguém, sem valor, inútil. Magoado/a, revoltado/a, perturbado/a, mortificado/a, traído/a, envergonhado/a, indignado/a e com raiva. A humilhação causa dor, tristeza e sofrimento.

E o que é assédio moral no trabalho?
É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.

Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também humilhados associado ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o ’pacto da tolerância e do silêncio’ no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, ’perdendo’ sua auto-estima.

Em resumo: um ato isolado de humilhação não é assédio moral. Este, pressupõe:
repetição sistemática
intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego)
direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório)
temporalidade (durante a jornada, por dias e meses)
degradação deliberada das condições de trabalho
Entretanto, quer seja um ato ou a repetição deste ato, devemos combater firmemente por constituir uma violência psicológica, causando danos à saúde física e mental, não somente daquele que é excluído, mas de todo o coletivo que testemunha esses atos.
O desabrochar do individualismo reafirma o perfil do ’novo’ trabalhador: ’autônomo, flexível’, capaz, competitivo, criativo, agressivo, qualificado e empregável. Estas habilidades o qualificam para a demanda do mercado que procura a excelência e saúde perfeita. Estar ’apto’ significa responsabilizar os trabalhadores pela formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego, aumento da pobreza urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo aos trabalhadores um sofrimento perverso.
A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental*, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho.

A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional segundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos paises desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do ’mal estar na globalização", onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.

Fontes: Barreto,M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.fonte:www.assediomoral.org.br