sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Vá com Deus,querida Tia do Bar...

Fundadora do Fundo de Greve, dona Luiza Maria de Farias participou da luta dos metalúrgicos do ABC...
A luta dos trabalhadores do ABC sofreu outra baixa nesta quarta-feira (04/01). Foi a morte da dona Luiza Maria de Farias, a Tia do Bar. O bar em questão é o que fica na Sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Ela cuidou do espaço por muito tempo, o suficiente para adquirir grande intimidade com o movimento sindical e, mais que isso, engajamento com a luta dos trabalhadores.
A Tia do Bar é conhecida dos metalúrgicos por ocupar o quarto andar da Sede do Sindicato com sua lanchonete desde o final dos anos 70. Figura popular pelo discurso debochado e direto sobre suas experiências pessoais, familiares e da militância política, ganhava as pessoas com facilidade, especialmente pelo carinho que demonstrava a quem se aproximasse dela.

Tinha orgulho, mesmo já chegando aos 70 anos, de descrever as "cantadas" que recebia. Outro orgullho era da amizade com Lula. “Eu fiz o primeiro cafezinho dele quando saiu da cadeia”, contou ela em 2003, para uma publicação da CUT sobre o 1º de Maio. Lula foi preso em 1980 por causa da greve dos metalúrgicos que naquele ano durou 41 dias, a de maior tempo na categoria. Histórias como essa tinha as centenas.
Ela foi uma das organizadoras do Fundo do Greve, criado em 1980, para fazer arrecadações aos metalúrgicos em greve.

Dona Luiza Maria deixou as atividades na lanchonete em 2007 devido a probemas de saúde. Morava em São Bernardo e faleceu na madrugada desta quarta-feira devido a uma infecção generalizada. Seu corpo foi enterrado no final do dia no Cemitério Jardim das Colinas. Tinha 73 anos.
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Falece o padre que ajudou Lula na greve de 1980

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O conforto dos ricos depende fundamentalmente dos pobres...

A frase-título desta coluna pertence a Voltaire, filósofo iluminista francês do século 18, e também foi utilizada em matéria da mais tradicional revista capitalista inglesa, a The Economist em sua edição 17-30 de dezembro.
O texto faz uma comparação entre a Inglaterra no início do século 20 e o Brasil no início do século 21 no que se refere ao trabalho do que aqui chamamos hoje de empregada doméstica.
Ricos e estratos médios ingleses até o final do século 19 estavam acostumados a serem servidos por um conjunto de trabalhadoras mal pagas, exploradas e não escolarizadas. Entretanto, tais trabalhadoras, com a consolidação da Revolução Industrial, passaram a trabalhar em lojas, fábricas e escritórios. Também, com o envio de muitos homens às frentes de batalha (conflitos armados nas colônias inglesas e a Primeira Guerra Mundial 1914-1918) mulheres passaram a substituí-los nas fábricas de munição, dirigindo ônibus, nos correios etc.
Naturalmente, as ofertas de trabalho doméstico começaram a se tornar escassas e portanto, seguindo a lei do laissez-faire, mais caras. Isso enfureceu os mais abastados e empoderou os mais pobres na Inglaterra do início do século passado. No Brasil atual, ocorre o mesmo. Eu mesmo já presenciei inúmeras vezes o ódio dos endinheirados, ou nem tanto assim, brasileiros pelo fato dos aeroportos estarem lotados ou pelo maior número de carros nas ruas devido à possibilidade de adquiri-los em longos financiamentos. No geral, certa parte da elite nacional, gostaria que 1888 não tivesse existido e que a ideologia da Casa Grande e da Senzala ainda fosse hegemônica. Felizmente não é assim.
Nos últimos 4 anos o salário das trabalhadoreas domésticas da região metropolitana de São Paulo aumentou 21%. O salário mínimo, recebido por boa parte delas, aumentará 14,3% (aumento real de 9,2%) indo para 622 reais a partir de janeiro de 2012.
Em São Paulo, uma agência de emprego doméstico tem 5 mil vagas e até o momento somente preencheu 650. A própria agência afirma que a mentalidade de quem procura seus serviços ainda é anterior à abolição da escravidão. As mulheres trabalhadoras domésticas são tratadas como pessoas de segunda classe. Por exemplo, citam o caso de uma família moradora de um pequeno apartamento que ficou surpresa quando a vaga oferecida foi recusada pelo “simples” fato de a cama reservada à trabalhadora doméstica estar instalada na lavanderia, próxima à cama do cachorro. É extremamente comum no Brasil manter domésticas dormindo no trabalho, em locais separados da “Casa Grande”, sem nenhum tipo de direito trabalhista e com salários ridículos.
Na Inglaterra atual, o trabalho doméstico profissional não acabou, pelo contrário. No entanto, a atividade hoje não é mais assemelhada ao trabalho escravo. A maioria não dorme no emprego; muitas são autônomas e oferecem seus serviços para várias famílias; trabalham não só para residências, mas tamnbém para instituições; são qualificadas e recebem bons salários.
No Brasil, a maioria das trabalhadoras domésticas ainda não têm seus direitos básicos respeitados, como férias, repouso semanal remunerado, previdência, carteira de trabalho, salário mínimo etc. No entanto, com os avanços sociais e macroeconômicos dos últimos anos a situação está se alterando.
Ricos e estratos médios terão de colocar um pouco mais a mão no bolso para manter seu conforto e aumentar a dose de paciência com os aeroportos lotados e trânsito ainda mais caótico com tantos carros…Imagino a revolta e os “dissabores” que o fim da escravidão deve ter causado na escravocrata elite brasileira em 1888…
Fonte:Eduardo do Site do ABCDMaior