A frase-título desta coluna pertence a Voltaire, filósofo iluminista francês do século 18, e também foi utilizada em matéria da mais tradicional revista capitalista inglesa, a The Economist em sua edição 17-30 de dezembro.
O texto faz uma comparação entre a Inglaterra no início do século 20 e o Brasil no início do século 21 no que se refere ao trabalho do que aqui chamamos hoje de empregada doméstica.
Ricos e estratos médios ingleses até o final do século 19 estavam acostumados a serem servidos por um conjunto de trabalhadoras mal pagas, exploradas e não escolarizadas. Entretanto, tais trabalhadoras, com a consolidação da Revolução Industrial, passaram a trabalhar em lojas, fábricas e escritórios. Também, com o envio de muitos homens às frentes de batalha (conflitos armados nas colônias inglesas e a Primeira Guerra Mundial 1914-1918) mulheres passaram a substituí-los nas fábricas de munição, dirigindo ônibus, nos correios etc.
Naturalmente, as ofertas de trabalho doméstico começaram a se tornar escassas e portanto, seguindo a lei do laissez-faire, mais caras. Isso enfureceu os mais abastados e empoderou os mais pobres na Inglaterra do início do século passado. No Brasil atual, ocorre o mesmo. Eu mesmo já presenciei inúmeras vezes o ódio dos endinheirados, ou nem tanto assim, brasileiros pelo fato dos aeroportos estarem lotados ou pelo maior número de carros nas ruas devido à possibilidade de adquiri-los em longos financiamentos. No geral, certa parte da elite nacional, gostaria que 1888 não tivesse existido e que a ideologia da Casa Grande e da Senzala ainda fosse hegemônica. Felizmente não é assim.
Nos últimos 4 anos o salário das trabalhadoreas domésticas da região metropolitana de São Paulo aumentou 21%. O salário mínimo, recebido por boa parte delas, aumentará 14,3% (aumento real de 9,2%) indo para 622 reais a partir de janeiro de 2012.
Em São Paulo, uma agência de emprego doméstico tem 5 mil vagas e até o momento somente preencheu 650. A própria agência afirma que a mentalidade de quem procura seus serviços ainda é anterior à abolição da escravidão. As mulheres trabalhadoras domésticas são tratadas como pessoas de segunda classe. Por exemplo, citam o caso de uma família moradora de um pequeno apartamento que ficou surpresa quando a vaga oferecida foi recusada pelo “simples” fato de a cama reservada à trabalhadora doméstica estar instalada na lavanderia, próxima à cama do cachorro. É extremamente comum no Brasil manter domésticas dormindo no trabalho, em locais separados da “Casa Grande”, sem nenhum tipo de direito trabalhista e com salários ridículos.
Na Inglaterra atual, o trabalho doméstico profissional não acabou, pelo contrário. No entanto, a atividade hoje não é mais assemelhada ao trabalho escravo. A maioria não dorme no emprego; muitas são autônomas e oferecem seus serviços para várias famílias; trabalham não só para residências, mas tamnbém para instituições; são qualificadas e recebem bons salários.
No Brasil, a maioria das trabalhadoras domésticas ainda não têm seus direitos básicos respeitados, como férias, repouso semanal remunerado, previdência, carteira de trabalho, salário mínimo etc. No entanto, com os avanços sociais e macroeconômicos dos últimos anos a situação está se alterando.
Ricos e estratos médios terão de colocar um pouco mais a mão no bolso para manter seu conforto e aumentar a dose de paciência com os aeroportos lotados e trânsito ainda mais caótico com tantos carros…Imagino a revolta e os “dissabores” que o fim da escravidão deve ter causado na escravocrata elite brasileira em 1888…
Fonte:Eduardo do Site do ABCDMaior
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