terça-feira, 1 de março de 2011

A gente não quer só comida....

Jovens participam do movimento sindical da Região e ocupam representações em empresas multinacionais como a Basf  no ABC
Por:Felipe Rodrigues e Vinicius Morende

A juventude se fez representada no sindicalismo da Região ao longo da história e foi um dos principais atores das manifestações realizadas no final da década de 1970, que mudaram os rumos do ABCD e do País. No entanto, a evolução social obrigou o movimento sindical a se adaptar às novas realidades, tanto para incentivar a participação dos jovens e renovar as lutas, quanto para adequar as demandas da juventude aos quadros de representação nos sindicatos.

Um exemplo disso é o grupo recém-empossado para representar os trabalhadores de uma das maiores plantas industriais químicas localizadas no ABCD, a Basf Demarchi, em São Bernardo. De acordo com o coordenador do núcleo da comissão de fábrica da empresa, Márcio Vital, cerca de 70% dos trabalhadores do setor químico são considerados jovens e as lideranças tiveram que se qualificar para conseguir falar a mesma língua desse pessoal. "Atualmente, a nossa comissão de fábrica conta com pessoas com pouco mais de 30 anos. Tendo um grupo mais jovem é possível unificar as reivindicações", disse.

Para o presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Paulo Lage, nos últimos anos houve um aumento da participação dos jovens atuando no sindicalismo. "É muito importante contar com a presença deles, afinal são eles que continuarão defendendo nossas bandeiras de luta nos próximos anos", destaca.

No entanto, de acordo com especialistas, as últimas três décadas impuseram sérios desafios à representação da juventude nos espaços de organização no local de trabalho e dentro do próprio movimento sindical. Entre eles estão questões práticas, como a mecanização dos modos de produção, que reduziu o volume de trabalhadores dentro das fábricas, mas também problemas estruturais, como as mudanças do mercado de trabalho e a evolução cultural.

"Antigamente, o objetivo do trabalhador era arrumar emprego estável, fazer carreira na empresa e garantir o futuro da família. Nas últimas décadas, as metas passaram a ter prazos mais curtos. O trabalhador quer bons salários, sem precisar crescer dentro da empresa, e o mercado de trabalho permite que se mude de emprego. Isso muda tudo", afirma o sociólogo Agnaldo dos Santos.

Para Santos, ao mesmo tempo em que há gratidão pelas lutas e conquistas sindicais do passado, o que faz jovens formados em Direito, por exemplo, ocuparem vagas nas montadoras por conta dos bons salários, não há uma identidade definida. "O sindicalismo se constrói na organização dos oprimidos em busca de uma vida melhor. Com a mudança da estrutura social, as relações entre as pessoas foram muito afetadas", explica. "Não é que no passado as pessoas eram mais empolgadas com a vida sindical, a estrutura social favorecia o envolvimento delas".

De acordo com o coordenador do Coletivo de Jovens Metalúrgicos e Metalúrgicas, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Ângelo Máximo Pinho, o Max, desde 1997, quando o coletivo passou a atuar na Região, grandes transformações ocorreram na sociedade. "Da época em que o Lula era presidente do sindicato para os tempos de hoje, muitos desafios foram superados, mas novos problemas foram colocados pelo neoliberalismo", sintetiza.
Já a presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Maria Rita Serrano, destaca que a categoria também sofre com os problemas da alta rotatividade dos jovens e, com isso, ter trabalhadores novos dentro do sindicato acaba sendo um desafio. "Apesar das dificuldades estamos sempre buscando trazê-los para dentro do sindicato, seja em cargos operacionais como também na direção", pondera.

  - Nas profissões consideradas transitórias o envolvimento da juventude com o mundo sindical é mais desafiador. De acordo com o diretor regional do Sintetel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do ABCD e Alto Tietê), Mauro Britto, a alta rotatividade é um dos problemas da categoria. "Ainda assim é possível encontrar jovens que possuem objetivos de lutar pelos seus direitos. Nossa meta é contar com estes trabalhadores no sindicato", conta.
 
 Fonte:Jornal ABCD Maior


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Não sois máquina,homem é que sois...

 

Desempregados pela mecanização

Com o avanço da mecanização nos canaviais paulistas, foram fechados pelo menos 40 mil postos de trabalho no corte da cana-de-açúcar desde 2007, calcula o professor do Departamento Economia Rural da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) José Giacomo Baccarin. No mesmo período, o setor sucroenergético abriu vagas suficientes para realocar apenas 10% dos ex-cortadores em atividades como a de tratorista. Outros postos abertos no ramo não são preenchidos por esses trabalhadores por causa da baixa escolaridade, segundo o professor.

Baseado em análises dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, Baccarin aponta que em maio de 2010 – mês em que há o pico da safra – trabalhavam na colheita manual 166,4 mil pessoas. Ele estima que 150 mil desses cortadores de cana sejam dispensados até 2014, último ano para o fim da queima da palha da cana, necessária para o corte manual, em todas as áreas mecanizáveis do estado. O prazo foi estabelecido em um protocolo assinado entre o governo estadual e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

O Ministério Público Federal tem pressionado por um processo de licenciamento mais rigoroso para permitir as queimadas no estado. No fim de janeiro, uma ação impetrada pelo órgão foi acatada pela Justiça Federal, que suspendeu a queima na região de Franca, interior do estado.

Para Baccarin, esse tipo de pressão ajuda a acelerar o processo de mecanização, mas não é o fator decisivo. “A questão é valorizar o etanol como combustível renovável e não agressor ao meio ambiente, é isso que está acontecendo”, destacou em entrevista à Agência Brasil. As queimadas pioram a qualidade do ar dos municípios produtores e a colheita manual é apontada como um trabalho muito penoso.

“O lado bom da mecanização é isso. As pessoas deixam de fazer esse serviço forçoso [pesado], no limite desumano, que é cortar cana”, analisa o coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado de Oliveira.

Ele pondera, no entanto, que a perda maciça de empregos impacta diretamente milhares de famílias e os municípios onde há o cultivo. “Tem o problema de ordem econômica e social que é o que fazer com as pessoas que viviam e dependiam dessa renda para viver.”

Algumas prefeituras têm buscado formas de amenizar esses efeitos, segundo Baccarin. “Uma coisa que já percebi que as prefeituras fazem é encaminhar o pessoal para o seguro-desemprego.”

A Unica desenvolve desde o ano passado um programa de requalificação de cortadores chamado Renovação. “É um modelo em que o trabalhador continua recebendo o salário dele, mas estuda em período integral”, explica a assessora de Responsabilidade Social Corporativa da entidade, Maria Luiza Barbosa.

O programa desenvolvido pela Unica tem foco, segundo ela, na capacitação de acordo com a disponibilidade de vagas em cada região. “É formar para o cara ter opção de trabalhar naquela área [sucroenergética] ou ser um profissional autônomo”. Ela afirma que o projeto tem “cunho social” e que os cursos oferecidos, com cerca de 300 horas de duração, são de alta qualidade. “É para aprender, não para falar que fez.”

A meta do projeto é, por ano, qualificar para outras atividades 7 mil trabalhadores braçais. Parte deles será realocada pela própria indústria canavieira, mas a maior parcela terá de ser absorvida por outros setores. Caso cumpra o proposto, o Renovação capacitará 35 mil cortadores até 2014.

O presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Regente Feijó (SP), Marcelino Sotocorno, afirma, no entanto, que as usinas têm preferido empregar trabalhadores mais qualificados a ex-cortadores na colheira mecanizada. Segundo ele, foi preciso pressionar as empresas para que os cortadores fossem qualificados para os postos.

Para o presidente do Sindicato de Empregados Rurais de Ribeirão Preto (SP), Sílvio Palviqueres, a requalificação ainda é “mínima” em comparação à velocidade da mecanização. Segundo ele, na região, uma das maiores produtoras de cana do estado, uma parte dos trabalhadores é absorvida pela construção civil. “Esses trabalhadores não têm escolaridade, sabem só assinar o nome, então eles não conseguem disputar uma vaga na área urbana. A única coisa que sobra para eles é a construção civil.”

Fonte:Diário Regional do ABC